Lino Raposo Moreira, PhD, Economista
Da Academia Maranhense de Letras.
Um dos tormentos perenes dos habitantes desta cidade de São Luís
é a poluição sonora. Existe no Maranhão uma Lei do Silêncio, que trata, entre
diversos outros itens, do nível de emissão de sons em todo o Estado. No entanto,
na prática, seus cidadãos têm vivido, faz muitos anos, sob a ditadura dessa infração
grave da legislação ambiental, com todos os males físicos e mentais daí
advindos, conforme mostram centenas de estudos, sem as autoridades
(ir)responsáveis pelo meio ambiente cumprirem seu dever.
Quais os motivos de algumas autoridades não atuarem como deveriam?
O principal é a visão e os interesses políticos de curtíssimos prazos dos
administradores. Omitindo-se, grande parte deles pensa ganhar mais votos do que
ganharia reprimindo o infrator. Alguns não querem se incompatibilizar com algum
“influencer não digital”, talvez vereador ou deputado; outros não desejam
desagradar nenhum “influencer político” de araque, e assim por diante. Isso faz
parte da cultura do mal afamado jeitinho brasileiro.
Nem tudo, porém, pertence ao mundo do sem jeito. Recentemente li
uma nota da AMPEM – Associação do Ministério Público do Estado do Maranhão, de
apoio ao promotor de Justiça Cláudio Guimarães. Tal posicionamento nos dá
esperança de eliminação do caos ambiental dominante por aqui.
Qual a razão desse pronunciamento da AMPEM? O promotor Cláudio
Guimarães, coordenador da Operação Harpócrates (o deus do silêncio), integrada,
ainda, pelas polícias Civil e Militar; Corpo de Bombeiros; Secretaria de
Trânsito e Transporte vem cumprindo seu dever de fiscalizar bares e
restaurantes e exigir obediência ao ordenamento legal. Só assim a ocorrência de
infrações à Lei do Silêncio será evitada, como também o será a de aglomerações
e outros comportamentos contrários ao esforço de controle da pandemia da covid-19,
por parte de frequentadores desses estabelecimentos, com a conivência de seus
proprietários. Como sabe, a covid é doença letal e já causou a morte de 250.000
pessoas no Brasil aproximadamente.
Quando a firmeza da operação foi percebida, levantou-se campanha contra
Cláudio, de parte de alguns políticos e de proprietários de bares e
restaurantes, interessados tão só na própria reeleição ou em lucros, à custa da
vida alheia, mas desinteressados pelo direito constitucional de os cidadãos
viverem em bem-estar com sua família. Nessas horas, mostra o histórico desses
casos, apelos são feitos pelos violadores da lei em favor de um acordo – que
acordo não seria –, pelo qual as autoridades fechariam os olhos a práticas
ilegais, em nome da criação ou preservação de empregos. Ora, por esse
raciocínio, também se poderia ser compreensivo com o mercado de drogas, pois o
combate contra seus barões também leva ao desemprego muitos soldados do
tráfico. Não se pode nem se deve negociar com quem age ilegalmente.
As ameaças contra a missão do promotor Cláudio Guimarães são
parte de uma cultura acostumada a considerar normal a existência de leis que
não pegam e não são aplicadas. Estas servem, assim, apenas ao fim de criação de
propaganda enganosa, como na afirmação falaciosa de termos “uma das melhores
legislações ambientais do mundo”. Não adianta tê-la, se não é obedecida.
Já passamos da hora da aplicação efetiva das leis aqui. O apoio
ao bom trabalho feito pela Operação Harpócrates não é favor, é obrigação. Não
respeitar as leis é como espalhar o vírus da ilegalidade nas próprias entranhas
da sociedade.