Por: Luiz Gonzaga Martins Coelho
Comemora-se hoje, 8 de março, o Dia Internacional da Mulher. Todos os anos nesta data, vem-me a lembrança algumas mulheres fundamentais e indispensáveis na minha vida, minha amada esposa Emmanuelle, minhas queridas filhas Vanessa e Larissa, sem falar daquelas que, de tão especiais, Deus levou: minha mãe biológica Guadalupe, minha mãe adotiva Maria Martins, minha irmã Regina, a mãe de meus filhos e tantas outras. Porém, hoje, escrevo para homenagear todas as mulheres do Ministério Público e o faço na figura ímpar da colega Elda Moureira, falecida há 30 dias, deixando órfã duas filhas e mais pobre o Ministério Público e a sociedade Timonense.
Invariavelmente, todo dia 8 de março ligava para a Dra. Elda, parabenizando-a pela dupla comemoração, pois, além de ser o Dia Internacional da Mulher, era o dia do seu aniversário, o que infelizmente não poderei fazê-lo este ano, deixando em mim um enorme vazio e uma grande saudade.
Tive a felicidade de conhecer a colega Elda no ano de 1998, quando fui promovido para a Comarca de Timon, e, convivendo de perto com ela, pude admirá-la pela extraordinaria figura humana e excelente profissional que era. Durante os 6 anos em que trabalhamos juntos, muitas foram as lutas travadas e vitórias alcançadas. Revendo o passado, recordo-me de momentos inesqueciveis, três deles merecem destaques. O primeiro quando o Juiz da 1º Vara da Fazenda Pública, à época, concedeu uma liminar em uma Ação de Reintegração de Posse para retirada de duas mil familias que oculpavam uma área de terra abandonada da Vila São Sebastiao, hoje o bairro Cidade Nova. Por essa ocasião, nos envolvemos, eu e ela, pessoalmente, nas negociações para buscar uma solução pacífica e impedir uma tragédia, ante o iminente conflito entre sem-tetos e a polícia militar, convencendo o Poder Executivo a desapropriar a área e assentar definitivamente aquelas famílias desabrigadas; a segunda, quando, àquela época, realizamos um fórum sobre Segurança Pública, diante do crescente índice de violência na cidade de Timon. A nossa querida Elda, sem perder a ternura pelo ser humano, me convenceu a fundar o Conselho Comunitário de Execução Penal, para trabalhar a ressocialização dos detentos; tendo-me ajudado também a organizá-lo; a terceira, quando, em momentos dificeis, que vivemos no combater o crime organizado e às pessoas influentes que atuavam à margem da Lei, quando pude constatar a sua coragem, combatividade, bravura, destemor e espírito de solidariedade.
Muitos outros exemplos de ações benfazejas poderiam ser citadas aqui, como, mais recentemente, a construção do Centro Comunitário São Raimundo Nonato, localizado no bairro Flores, que abriga várias atividades sociais voltadas para a família dos presos e das comunidades do entorno do presídio, uma ação ressocializadora que teve diretamente sua participação e do colega Promotor de Justiça Antônio Borges. Cito, como outros belos exemplos do trabalho desenvolvido pala nossa inestimável Elda, a construcão e o aparelhamento da APAE, a decisiva intervenção na implantação do ICRIM e IML de Timon, fruto de um TAC firmado pela Promotoria de Justiça Especializada do Consumidor de São Luís e a CEMAR; a estruturação de cursinhos populares e a atividade de emancipação de grupos de mulheres carentes, além de muitos trabalhos e relevantes serviços prestados anônimamente por Ela, que somente foram exteriorizados pelas dezenas de depoimentos prestados por pessoas humildes de Timon quando de sua homenagem.
O registro público que pretendo fazer nesta data especial é de reconhecimento e justiça. Todos nós do Ministério Público perdemos a companhia de uma grande amiga, dessas que deixam exemplos de grandeza e dignidade. Suas filhas Carol e Aninha, paixões de sua vida, devem agradecer a Deus pela mãe que tiveram e, sobretudo, devem tomar para si os exemplos de vida que para elas deixou.
Assim era Elda, uma profissional exemplar, com extremo senso de justiça, envolvida com os movimentos sociais, sensível aos anseios das comunidades carentes, comprometida com a efetivação das políticas públicas e que nunca perdia a capacidade de se indignar diante das injustiças sociais. Tive o privilégio de trocar com Elda muitas ideias e dividir muitas angústias, mas sempre vi no seu semblante e na sua postura a imagem serena de alguém que abraçou o cargo de Promotora de Justiça como missão e sacerdócio, sem perder o sentimento de bravura frente ao abismo existente entre ricos e pobres e o desejo incontido de lutar pela construção de um mundo menos desigual.
Sua capacidade de indignação fará falta ao Ministério Público e ao povo de Timon, e é esse legado que deixará a todos nós para que lutemos sempre pela construção de uma sociedade melhor.
Por estes e outros tantos motivos cuja densidade não seriam possíveis traduzir em palavras, a Associação dos Membros do Ministério Público do Estado do Maranhão, no Dia Internacional da Mulher, que coincide com o aniversário da nossa querida colega, prestará-lhe uma merecida homenagem, dando o seu nome as novas instalações da academia de ginástica que será inaugurada, assim como a Administração Superior do Ministério Público, também reconhecendo a grandiosidade de nossa querida amiga, já submeteu ao Colégio de Procuradores, que sede das Promotorias de Justiça da Comarca de Timon, passem oficialmente a ter o nome da Dra. Elda Maria Alves Moureira.
Passar pelo mundo fazendo o bem é uma dádiva divina. Na vida breve que Deus lhe concedeu, Elda fez maravilhas e cumpriu fielmente sua missão. Vamos sentir muito sua falta. Que o Criador na sua infinita bondade te restitua em dobro o muito que fez pelos seus semelhantes aqui na terra e a guarde na eternidade ao lado dos justos. Eternas saudade!
* Promotor de Justiça da Infância e Juventude da Comarca de São Luis/MA, e Diretor-Geral da Procuradoria-Geral de Justiça do Estado do Maranhão.